segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Deusa Tyche Fortuna

http://api.ning.com/files/EjHteRpeO34UY4pCrOFPHWLdS*NS*WUioFcQYNwFfnYCwO9mouRAVdESnkmZ9BGv19au4r7ef1N1X4LwJvFnyVd1yNnzT5fg/FORTUNA.jpg
Fortuna era a deusa romana da sorte (boa ou má), da esperança. Corresponde a divindade grega Tyche. Era representada com portando uma cornucópia e um timão, que simbolizavam a distribuição de bens e a coordenação da vida dos homens, e geralmente estava cega ou com a vista tapada (como a moderna imagem da justiça), pois distribuía seus desígnios aleatoriamente.
Fortuna era considerada filha de Júpiter. Roma dedicava há ela o dia 11 de Junho, e no dia 24 do mesmo mês realiza um festival em sua homenagem, o Fors Fortuna. Seu culto foi introduzido por Sérvio Túlio, e Fortuna possuía um templo nos tempos de Roma republicana próximo ao Capitólio chamado de templo de Fortuna Virilis.

http://cdn.emuseumstore.com/images/uploads/2310_2531_popup.jpg




Que é a Fortuna ? Fortuna, ou Sorte, para os Romanos, era uma das deusas mais importantes e mais escorregadias do seu panteão. Fortuna decidia o destino dos homens, sem olhar seu coração, obras, ou status social. Ela dava e tirava, sem se importar com valores como mérito, “karma”, etc.
Tanto que uma das correntes mais importanes da época era o estoicismo como pregado por Sêneca, que para resumir em poucas frases, defendia que a vida era uma constante peça pregada pelos deuses, mas sempre com um final triste: o sofrimento e a morte. Você quer gastar sua vida tomando drogas, vadiando e roubando dinheiro ? Seu destino é o sofrimento e a morte. Você quer ser um carola, nunca fazendo nada porque tem medo do que os outros vão dizer ? Seu destino é o sofrimento e a morte. A única opção dos homens, que mostraria seu verdadeiro valor, é enfrentar de cabeça erguida o trágico destino, mostrando aos deuses “façam seu melhor ou pior, eu aguento o que for”.
Hoje em dia temos uma visão diferente do mundo, guiada pelo americanismo do “self made man” e pelo cientificismo.
O cientificismo é a pretensão de que o mundo moderno é totalmente conhecido, e todas as suas leis já foram explicadas. Assim, quando alguma coisa dá errada, como um prédio que cai num terremoto pequeno, sempre se parte da pretensão de que todas as leis físicas que regem um prédio são conhecidas, previsíveis e controláveis, e decorre disso que “temos que procurar um culpado”.

No terremoto de Kobe, por exemplo, prédios antigos resistiram ao lado de prédios “anti-terremotos” que foram por terra. Foram mal-construídos ? Não. Apenas que um terremoto tem mais maneiras de derrubar um prédio que nós de protegê-lo.
A segunda crença importante é a do “self made man”: não apenas o mundo é determinado por relações causais, unívocas, e perfeitamente explicáveis, como elas são decorrentes da condição interior dos indivíduos. O sucesso das pessoas, nos mais diversos campos, é determinado por seu esforço, competência e “pensamento positivo”. Não existe espaço aqui para “sorte de principiante”, “subiu na vida puxando saco e enfiando a faca nas costas”, etc. Se alguém tem sucesso, é merecedor, se alguém não tem sucesso também é merecedor, é sua “própria culpa”.
Por isso que a visão antiga da sorte e do destino é muito difícil de ser engolida pelo homem moderno, que está em seu sonho de dominação absoluta do mundo. Por isso que muito moderno olha para o mundo antigo e o taxa de “bárbaro e fatalista”. Mas olhe para o nosso mundo, e veja qual é o mais fatalista: continuamos acreditando em “Vencedores e perdedores”, da mesma maneira que em outras épocas se acreditava em “condenados e abençoados”.
O fatalismo não se encontra mais na relação entre o homem e seu destino, pois hoje em dia temos a crença infantil que controlamos nosso destino em 100%. Infatil porque toda criança acha que o mundo gira em torno dela, e ela é a causadora do dia e da noite, do divórcio de seus pais, etc. Não, o fatalismo hoje se encontra na relação dos homens com os outros homens.
Joseph Campbell defendia em O poder do Mito uma visão parecida a de Sêneca, explicando a visão medieval da Roda da Fortuna (não é a carta do tarot) – o mundo dá voltas, independentemente da vontade dos homens, privilegiando a uns ou outros sem ligar para seu “merecimento”. Às vezes estamos no alto, às vezes estamos por baixo, e as duas posições são ilusórias: apenas buscando nosso “centro” nos libertamos da prisão da roda.
Uma ode à perigosa porém inconstante fortuna é Fortuna Imperatrix Mundi, de Carl Orff, que em sua Carmina Burana, colocou em sua composição diversos poemas medievais. No vídeo abaixo você pode acompanhar a música com a letra em Latim. A tradução está abaixo.
O Fortuna, como a luna cambiante, sempre crescendo e decrescendo; detestável vida
que primero oprime e depois alivia
a seu capricho; pobreza e poder
você derrete como o gelo.
Destino monstruoso e vazio, sua roda da voltas,
perverso, vão é o bem estar e sempre se dissolve em nada, sombrío e velado
me mortifica também; agora pelo jogo
viro minhas costas nuas para tua vilania.
O destino está contra mim, na saúde e na virtude,
empurrado e amarrado, sempre escravizado.
A esta hora sem demora
toca as cordas vibrantes; pois o Destino [*]
derrota ao mais forte, e que chorem todos comigo!
[*] É possível que essas “cordas” sejam os fios do destino, das três irmãs tecedoras gregas, mas como não tenho certeza achei melhor não chutar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.