A RELIGIÃO DA GRANDE MÃE
Por Romeo Graziano Filho



Religião pré-cristã, identificada com a natureza, a Wicca, foi perseguida a partir da Idade Média
Os praticantes acreditam que já é tempo de começar a eliminar os preconceitos seculares e as discriminações perpetuadas por ignorância e incompreensão. Isso se torna mais urgente ocorrências criminosas acabam envolvendo o nome da Wicca, que no Brasil poderá ser legalizada, seguindo a experiência dos Estados Unidos e da Europa. Um Coven (grupo de Wiccas) além de promover palestras, também têm reuniões sobre o assunto.
O termo wicca deriva de witch (bruxa) e tem a vantagem de ser melhor aceito pelo leigo. Mas não são poucas as mulheres que se orgulham de assim serem chamadas.
Os wiccanianos representam uma religião pré-cristã, pagã e profundamente identificada com a natureza, que não faz sacrifícios nem tem a finalidade de disseminar o mal, muito menos acredita na existência do demônio ou realiza cultos satânicos. Ao se rastrear as origens do termo bruxa encontra-se a palavra latina plucios (plus = mais; cios = saber), denominando pessoa que sabe muito. E se a verdade sempre teve inimigos, é natural que saber mais do que o aceito e estabelecido sempre resultou em problemas à ordem comum, principalmente a religiosa.

Enquanto religião arcaica e telúrica, a tradição wicca é herdeira direta do culto à Grande Mãe - a Grande Deusa fecunda, amorosa, provedora e protetora, também representada pela Lua em três das suas fases: na crescente é a mulher virgem, na cheia é a mãe e na minguante é a anciã (a sábia). Aqui nos remetemos ao período paleolítico, época de adoração das deidades da natureza, de nomadismo e igualitarismo. A doutrina da Grande Mãe compôs uma etapa fundamental na evolução do homem como indivíduo e grupo social, influenciando a totalidade do mundo antigo. Porém, quando esse homem entendeu que poderia acumular propriedades, opondo-se às propriedades comunitárias cultivadas pelas mulheres, deu-se o início da ascensão do poder masculino e da sociedade patriarcal. Daí em diante, o culto à Lua passou a ser substituído pelo culto ao Sol, ressaltando-se o poder masculino encarnado na imagem de um deus guerreiro, portador da luz e daí razão suprema. Nessa nova estrutura de poder, a sensibilidade, o sentimento, a imaginação e a intuição - qualidades do universo feminino - perderam importância para o raciocínio lógico, a técnica e as leis.
Os Covens que trabalham exclusivamente com o aspecto da Deusa estão em sintonia com essa tradição, e podem recusar a admissão de seguidores homens. Há quem justifique tal postura dizendo que um homem consegue no máximo ser um bruxo, mas nunca uma bruxa, inclusive porque ele não tem a experiência de estar num corpo de mulher. Ela representa o equilíbrio dos opostos - complementares, reproduzido na alternância dia e noite, luz e trevas, Yin e Yang, macho e fêmea.
Com o advento do Cristianismo, as formas de religiosidade primitiva e suas divindades foram consideradas ameaçadoras ao novo sistema de fé.
A caça às Wiccas chegou ao topo do seu extremo durante o Reinado de Terror, instaurado na Europa de 1300 a 1600.
Em nosso país, tudo demonstra que os wiccanianos são mais influenciados pelas tradições Celtas, particularmente a que sobrevive na Irlanda, cuja magia está identificada com o druidismo. Também existem grupos da Stregga a versão italiana. Mesmo em nossos dias, há dificuldades para alguns grupos wicca europeus reconhecerem a brasileira, geralmente por relacioná-la com nossa práticas de origem africana.
No matriarcado, as mulheres exerciam a magia de modo muito informal: eram as curandeiras, as erveiras, as parteiras.
Não temos um livro como, por exemplo, a Bíblia. Nossos conhecimentos são transmitidos via oral e ninguém vira wicca de uma hora para outra. Algumas pessoas vêm a wicca como um movimento feminista, mas não é. Praticamos uma religião da natureza, e nosso objetivo maior é a elevação espiritual.
Por Ter suas bases no hemisfério norte, a religião wicca normalmente segue o calendário comemorativo das estações da natureza daquela parte do mundo. Para o hemisfério sul, onde as quatro estações do ano são invertidas, a questão da unificação das datas dos Sabás (as festas mágicas) é outro ponto a ser discutido entre os Covens.
Comemoramos oito datas básicas no ano, que são os solstícios e os equinócios e mais quatro festividades. Na minha opinião, enquanto o Brasil não fortalecer uma egrégora própria da wicca, vai ser muito difícil.
As egrégoras são as tradições mantidas e propagadas pela continuidade de suas crença e práticas, graças ao somatório do tempo de muitas gerações. É compreensível que grande parte dos wiccanianos brasileiros, façam seus Sabás orientados pelo calendário das estações na Europa, tanto quanto não deixa de Ter sua lógica realizar as mesmas festividades nas estações do lugar em que se vive. Não há unanimidade em torno do assunto, mesmo porque não há uma uniformidade nos cultos wicca dos diversos Covens no País.
É tudo um processo mental, pois no culto wicca pode-se trabalhar tanto com a natureza como com a energia da egrégora. É importante a pessoa observar o que sente em ralação ao sabá antes de fazer a escolha, considerando que ao ser traçado o círculo mágico, é dentro dele que tudo estará acontecendo.
O círculo, riscado no solo, é um dos símbolos da religião wicca, servindo para evocar e preservar o poder mágico, para dar proteção. Muitos outros símbolos participam da sua Ritualística, entre eles o pentagrama ( a estrela de cinco pontas dentro de um círculo, indicando homem equilibrado e protegido), o tridente (símbolo sagrado de três falos), o triângulo (a magia do número três) ou o olho de Hórus (proteção espiritual, clarividência).
Já nas ferramentas de trabalho de uma wicca, não podem faltar a vassoura (de palha ou de ervas aromáticas, que servem para a limpeza energética), a varinha (feita de galho de arvore, projeta a energia da pessoa), o caldeirão (simboliza o útero, o local onde as coisas se transformam) ou o punhal (faca ritualística com amplas funções, como cortar forças negativas e direcionar energias).
Confirmando a crença popular, o gato é o animal predileto da wicca, que com ele compartilha de uma sensibilidade aguçada, de um raro espírito de independência. Sobre o altar invariavelmente estão representados os quatro antigos e místicos elementos (água, fogo, ar e terra), através de um cálice contendo vinho ou água, de velas, incenso e fragrâncias, cristais e pedras.
Há várias maneiras de simbolizar o Deus e a Deusa; um girassol para o Deus e um copo de leite para a Deusa, o Sol e a Lua, flores ou frutas femininas e masculinas.
O Coven, é como se fosse uma família, uma célula com no máximo 13 pessoas que permanecem ligadas energeticamente. Seus objetivos, à maneira da maioria das religiões, são reconectar o homem com o cosmo, com Deus, melhorar a situação de vida das pessoas, as condições planetárias, promover a paz, a harmonia. Os Esbás são reuniões rotineiras dos membros do Coven, servem para discutir os encantamentos, para a troca de conhecimentos, de idéias, para estudos e discussões das atividades do grupo.
Os encantamentos, são os meios mágicos de agir na realidade, desde que não interfiram no livre-arbítrio de ninguém. O fundamental na wicca é que a pessoa só tem o direito de fazer aquilo que não afete o outro, operando sob a ação de uma das leis mais importantes à sua prática: a Lei Tripla, a qual determina que tudo o que se faz, volta três vezes para a própria pessoa.
Sem infringir a lei tripla, encantamentos, filtros ou poções, são recursos para dar uma mãozinha no destino, quando se quer facilitar determinados acontecimentos que nos proporcionarão maior desenvolvimento.
O pensamento mágico requer a intenção certa para influir positivamente nas circunstâncias e tornar o encantamento eficiente. O verdadeiro wicca, utiliza sua arte até nas situações banais do dia-a-dia, na rua, no shopping ou no seu trabalho; sem perder de vista, a fronteira, onde começa a liberdade do outro.
O Calendário mágico dos Sabás


Yule (solstício de inverno; 20 a 23 de dezembro no hemisfério norte; 21 de junho no hemisfério sul) - É a noite mais longa do ano e comemora o nascimento do Deus, sendo uma festa que corresponde ao Natal, onde são usadas as cores vermelha, verde e dourada (as mesmas do Papai Noel). Na antigüidade, eram feitos ritos pagãos de fertilidade e de adoração ao Sol. Os Wiccas despedem- se da Grande Mãe e celebram o amor, as realizações do ano que passou e a união da família.
Imbolc (2 de fevereiro no hemisfério norte; 31 de julho ou 1o de agosto no hemisfério sul) - É o restabelecimento da Deusa e o momento de purificar e fertilizar a terra para o plantio. Acendem-se velas e fogueira para invocar a força do Sol, varre-se o círculo mágico com a vassoura simbolizando o afastamento do antigo.
Ostara (equinócio da primavera; 20 a 23 de março no hemisfério norte; 21 de setembro no hemisfério sul) - equivalente à Páscoa, é um rito de fertilidade que celebra o nascimento da primavera. É a época da reprodução, quando as noites e os dias são iguais. A Deusa envolve a Terra com seu manto fértil e o Deus já é um homem. O altar é decorado com flores e ovos pintados, representando a fertilidade e a reprodução.
Beltane (1o de maio no hemisfério norte; 31 de outubro no hemisfério sul) - É a celebração da união da Deusa com o Deus; marca o começo da estação do plantio, sendo também um sabá da fertilidade. São feitas oferendas aos Elementais e os membros do Coven dançam em torno de um mastro de fitas coloridas (maypole), símbolo da união do masculino com o feminino.
Litha (solstício de verão; 20 a 23 de junho no hemisfério norte; a 21 de dezembro no hemisfério sul) - Com o Sol no seu zênite, esse é o dia mais longo do ano, quando os poderes da natureza atingem o apogeu. Colhem-se ervas mágicas para encantamentos e poções; é a época ideal para divinações, rituais de cura, corte de varinhas e bastões. Nessa noite, acredita-se que tudo aquilo que for sonhado se tornará real para a pessoa.
Lammas (1o de agosto no hemisfério norte; 2 de fevereiro no hemisfério sul) - Marca a primeira colheita, a festa do pão. As plantas mostram seus frutos. A Deusa é honrada no seu aspecto de semente e o Deus como o Senhor da colheita. Confeccionam-se bonecas de milho em homenagem à Deusa Mãe da colheita.
Mabon (equinócio de outono; 20 a 23 de setembro no hemisfério norte; 21 de março no hemisfério sul) - Aqui é atingida a plenitude da colheita, quando o Deus se prepara para partir e a força da natureza entra em declínio. É a época apropriada para os feitiços banidores.
Samhain (31 de outubro no hemisfério norte; 31 de abril a 1o de maio no hemisfério sul) - A festa dos mortos, mais conhecida como Halloween. Segundo a crença, é quando desaparecem os véus que separam o mundo dos vivos do mundo dos mortos, dos espíritos, o que facilita o acesso à sabedoria de nossos ancestrais. Também é o momento de introspecção, pois assinala o início do inverno.