quarta-feira, 14 de abril de 2010
4. TEORIA DA CULTURA E A PRÁTICA DA CULTURA KALDERASH.
No GT Culturas Ciganas até agora nunca foi discutido e definido o
conceito de cultura a ser usado pelo GT. Obviamente todos, ciganos e
não-ciganos, sabem de que se trata. Mas será que sabem mesmo? Quando
professor na UFPB em João Pessoa falava sobre o conceito de cultura,
as teorias da cultura, dinâmica cultural, etnocentrismo e relativismo
cultural durante várias semanas. Não posso fazer isto hoje em apenas
meia hora. Por isso vou me limitar ao mínimo póssível.
A primeira definição de cultura é a de Tylor (1871): "aquele todo
complexo que compreende o saber, a crença, a arte, a moral, o
direito, o cos tume e quaisquer outras qualidades e hábitos adquiridos
pelo homem na sociedade". Depois surgiram centenas de outras
definições de cultura, mas que aqui não pretendo nem posso
reproduzir, a não ser a definição mínima de Herskovitch: cultura
é "as coisas que a gente tem, faz e pensa" (1948).
Das inúmeras teorias sobre cultura quero destacar apenas quatro:
a) a cultura é dinâmica; nenhuma cultura é completamente está tica. A
mudança é o resultado, principalmente, do contato entre sociedades
com culturas dife rentes.
Portanto, não é possível, nem desejável, impedir mudanças nas
culturas ciganas e exigir que continuem fiéis a antigas e
ultrapassadas tradições e costumes. Cigano hoje em dia tem computador
com internet e email, viaja de avião, se hospede em hotel, paga suas
contas com cartão de crédito, tem celular, etc. É uma questão de
sobrevivência. E os brasileiros, graças a deus, hoje não têm mais a
mesma cultura que tinham seus antepassados nos séculos 16 e 17. Da
mesma forma, também as culturas ciganas mudam, se transformam, se
atualizam, mas nem por isso deixam de ser culturas ciganas. Serão
apenas culturas ciganas diferentes das culturas ciganas de
antigamente.
b) ninguém conhece todas as particularidades de sua cultura (e menos
ainda das culturas alheias). Em cada cultura encontramos universais,
alternativas e especialidades. - universais: os elementos culturais
comuns a todos os membros adultos normais da socie dade; -
especialidades: os elementos culturais compartilhados por membros de
certas categorias socialmente reconhecidas de indivíduos, mas não
compartilhados pela população total, p.ex. militares, religiosos,
políticos, juristas, operários, camponeses etc. Ou, no nosso caso,
índios, afro-brasileiros ou ciganos; - alternativas: padrões
culturais que podemos escolher numa determinada situação (p. ex. te
mos que nos vestir, mas o tipo, a cor da roupa é nossa escolha).
Quanto mais desenvol vida a cultura, maior o número de alternativas.
Nas sociedades simples, o número de alterna tivas é limitado. Não é
mais o caso nas sociedades ciganas.
Ou seja: nenhum cigano e nenhuma cigana conhece toda a sua cultura, e
menos ainda a cultura dos outros grupos e sub-grupos ciganos. O que
então fazer para conhecer melhor a sua própria cultura cigana e as
culturas de outros grupos ciganos? Simples: contrate alguns
especialistas em estudar outras culturas, e estes especialistas se
chamam "antropólogos", que receberam (ou deveriam ter recebido, mas
no Brasil quase nunca recebem) um treinamento especial, no qual
aprenderam métodos e técnicas de pesquisa que lhes habilitam executar
esta tarefa. Obviamente existem antropólogos que são bons
pesquisadores, e outros nem tanto. Nem todo antropólogo tem vocação
para a pesquisa de campo em sociedades com culturas diferentes,
inclusive em sociedades ciganas. E sabemos que vários não-
antropólogos – por exemplo: jornalistas e literatos – mostraram uma
excecelente capacidade de pesquisar ciganos.
Nas ofertas de emprego quase sempre exige-se "experiência anterior de
2 anos" ou até mais. Portanto, recomendo aos ciganos e ao GT Culturas
Ciganas contratar somente antropólogos com comprovada experiência em
pesquisa de campo, não importa que seja entre índios, em quilombolas,
ou em favelas, ou que sejam peritos em pesquisar prostitutas, michês,
gays, lésbicas e simpatizantes. Conforme se vê, os antropólogos (e as
antropólogas) são plurivalentes! A experiência é comprovada pelas
publicações do antropólogo sobre o povo/ comunidade/ minoria étnica,
social ou sexual por ele ou por ela pesquisado. Se o antropólogo
nunca publicou coisa alguma, ou se nem sequer pode apresentar ensaios
inéditos, não o contrate.
c) devemos distinguir a cultura ideal da cultura real: ou seja, a
teoria/a ideologia, aquilo que se pensa, aquilo que se deve fazer, e
a prática, aquilo que na realidade se faz. Nem sempre (quase nunca)
se segue as regras, as normas ideais. Poderia agora citar inúmeros
exemplos PTistas, mas estes todo mundo já conhece. Portanto, permitam
apenas alguns exemplos ciganos.
- os ciganos afirmam que "os ciganos só casam entre si",
geralmente alegando que é para preservar a pureza da "raça". Mas na
realidade, principalmente entre os Rom, inúmeros ciganos são casados
com não-ciganas, e inúmeras ciganas são casadas com não-ciganos. Até
sua Alteza Mirian Stanescon é casada com um não cigano, com o qual
pariu quatro filhos/filhas que, pela tradição cigana ainda hoje
existente, são classificados(as) como bastardos(as) não ciganos(as),
já que o pai é um não-cigano. A descendência dos filhos ciganos se dá
pela linha paterna. Ou seja, só é cigano quem tiver um pai cigano. Ou
seja, após a morte da Mirian a suposta e fajuta dinastia real
Stanescon deixará de existir, porque nenhum filho ou nenhuma filha
lhe poderá suceder. Porque ela não pensou neste problema antes de
casar com um não-cigano?
- os ciganos afirmam que as ciganas casam cedo, por volta dos
15 anos, quando fazem, obrigatoriamente, o teste da virgindade, cujo
resultado é exibido em público. A sua Alteza Mirian Stanescon casou
aos 32 anos de idade, com um não-cigano. Confesso não saber se a
Mirian Stanescon, segundo a tradição cigana kalderash, também aceitou
submeter-se ao teste de virgindade, e qual o resultado. É possível
que se trate de um teste obrigatório apenas para as jovens súditas
ciganas plebéias, mas em hipótese alguma para velhas princesas da
realeza cigana. Também nunca saberemos porque sua Alteza Mirian
Stanescon, antes dos 32 anos, nunca encontrou um cigano que quisesse
ou pudesse casar com ela, até ela finalmente encontrar um não-cigano.
Tenho algumas teorias sobre este fato, mas prefiro não falar disto
hoje, porque ela já sofreu e ainda vai sofrer demais. O pior ainda
virá daqui a pouco.
- por causa deste "teste de virgindade", os ciganos afirmam
que não existe prostituição de crianças, adolescentes e mulheres
ciganas, nem existem cafetinas ciganas. Mas já foi comprovado que em
Sousa, Paraíba, esta prostituição existe, e deve existir em não sei
quantos outros ranchos ciganos, do Norte ao Sul, e também deve
existir, e como deve existir, inclusive entre os Kalderash no Rio de
Janeiro, onde também devem existir cafetinas que prostituem crianças
e adolescentes ciganas. A Mirian Stanescon deve entender muito deste
assunto já que nega sistematicamente a existência de cafetinas
ciganas que prostituem crianças, adolescentes e mulheres ciganas.
Será que também a Mirian ..... não isto é algo impossível!
- os ciganos afirmam que "os ciganos podem até roubar os não-
ciganos, mas nunca um cigano rouba outro cigano". Mas numa reportagem
de conhecido jornal carioca, a jornalista Claudia Mattos, em 3 de
janeiro de 1996, divulgou a seguinte notícia: "Segundo Jarco
Stanescon, primo em segundo grau de Miriam, ela teria participado de
um assalto à casa de seus pais em 1979, quando foram roubados US$ 8,5
milhões em ouro, e de ter sequestrado um filho seu por seis dias".
- Obviamente, Mirian Stanescon negou tudo, alegando que não
foi apresentada queixa na delegacia. O que é evidente, porque o Jarco
Stanescon tinha um filho sequestrado pela quadrilha da Mirian, não
sei com quais ameaças se o pai apresentasse queixa. E além disto na
Delegacia a família do Jarco Stanescon teria que explicar a origem
deste ouro, e porque nunca foi declarado na relação de bens do
imposto de renda, conforme sua Alteza Mirian, talvez já então
estudante ou até já formada em direito, bem sabia e deve ter
explicado ao querido primo. Portanto, era melhor ele calar a boca.
Até prova em contrário, sua Alteza e Princesa Mirian Stanescon desde
1979 é, ou era, membro de uma quadrilha de assaltantes e
sequestradores que aqui, provisoriamente, chamarei o 1º CCC – o
Primeiro Comando Cigano da Capital. Mas, a verdade deve ser dita,
parece que só assaltavam e sequestravam outros membros da própria
família Stanescon ou outros kalderash. Ainda bem. Segundo informação
de um cigano rom muito amigo meu, e também já bastante careco de
saber de tudo isto, existe hoje também o 2º CCC – o Segundo Comando
Cigano da Capital - , mas este em São Paulo, especializado em
assaltar outros ciganos. Obviamente, os membros são ciganos
kalderash – sempre kalderash.
Não pretendo citar outros exemplos ciganos e de sua cultura ideal e
real. Mas no mundo cigano a cultura ideal nem sempre, quase nunca, é
a cultura real. Como também não é no mundo não-cigano.
Para terminar: francamente, falando como não-cigano, não vejo nenhuma
necessidade ou utilidade de ter uma "princesa kalderash" chamada
Mirian Stanescon como membro efetivo deste GT Culturas Ciganas,
acusada, pelos próprios ciganos e por sua própria família, de ser, ou
de ter sido, assaltante e sequestradora, como todos os ciganos do Rio
de Janeiro sabem. E no Rio de Janeiro nem sequer é mais considerada
cigana pelos próprios ciganos. Mas esta é uma questão que os próprios
ciganos terão que resolver. Sem a interferência, e sem os votos, dos
membros da SEPPIR ou do Ministério da Cultura, ou de outros não-
ciganos, como eu. Sua Alteza Mirian Stanescon já propôs excluir os
Calon. Que tal os Calon aqui presentes agora proporem e exigirem a
exclusão deste GT, para sempre, da fajuta princesa e futura rainha
Mirian Stanescon, que tanto odeia os Calon, a ponto de os declarar
não-ciganos? Certamente os Calon, que são ciganos decentes, pacíficos
e não etno-egocêntricos, não vão fazê-lo, porque isto não faz parte
da cultura deles.
Por isso, como não estou acostumado a conviver em GT´s com membros de
quadrilhas criminosas kalderash, anuncio agora, oficialmente, meu
desligamento definitivo deste GT Culturas Ciganas. Ao Secretário
Sérgio Mamberti e aos outros membros do Ministério da Cultura, como
também aos membros da SEPPIR, agradeço a confiança que, por motivos
que ignoro, depositaram em mim. Espero que este GT tenha muito êxito
no futuro. Aos amigos e às amigas Calon aqui presentes, que só
conheci em 2006, e ao há mais de dez anos meu grande amigo
matchuwaia Claudio Iovanovitch, um último grande abraço.
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