quarta-feira, 8 de setembro de 2010

O lado místico do Flamenco


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Quando o cante solta um grito de: Hay!
Naquele momento o espectador, seja ele andaluz ou não, não precisa de nenhuma explicação.
Ele compreende, instintivamente, o que é o flamenco.

Mas quando quer conhecer as origens do flamenco ou as diferentes acepções da palavra, não obtém uma resposta definitiva. O flamenco tem seus mistérios.

É certo, porém, que o flamenco permanece uma MÚSICA singular ligada a curtos poemas, as copias, freqüentemente fascinantes - sobre a qual enxertou-se a DANÇA. O canto (el cante), a música (el toque) e a dança (el baile) são indissociáveis. Eis unia das raras certezas.

Há uma outra, a de seu local de nascimento. A pátria do flamenco a Baixa Andaluzia e seu berço o triângulo Sevilha - Jerez - Cádiz.

O problema torna-se mais complexo quando se aborda a etimologia do Flamenco. A palavra espanhola "flamenco" significa "flamengo". Seu estudo deu lugar a numerosas interpretações. O viajante inglês George Borrow, que viveu desde 1836 perto dos ciganos da Andaluzia, menciona em seu livro Los Zincali que se designa os ciganos sob o nome de novos castelhanos, de germanos ou ainda de "flamencos".

Alguns adiantam que a palavra "flamenco" é um derivado da expressáo árabe "fellah-mengu" que significa "camponês em fuga", devido à proscrição dos ciganos (que aconteceu paralelamente à perseguição dos mouros em 1570, empreendida por Felipe II de Espanha). Outros consideraram que a palavra "flamenco" poderia ter sido importada da Flandres no século XVI por alguns "flamengos" da corte de Carlos V. O termo era compreendido então como um insulto, podendo ser aplicado aos ciganos.

Viria ainda a palavra "'flamenco" de "flameante" (flamejante) ou designaria como hoje os fanfarrões? Não esqueçamos, enfim a versão de Francisco Rodriguez Marin que vê uma correspondência simbó1ica entre o flamingo rosa (igualmente flamenco), que vivia nas costas do Mediterrâneo e os andaluzes que ocupavam as tabernas, os locais de festa, e cuja silhueta lembrava a do palmípede.

Não bastasse a palavra "flamenco" dar margem a divergências, a própria história do Flamenco e de suas origens suscitam igualmente numerosas hipóteses e polêmicas.

CIGANO E/OU ANDALUZ

Seria o flamenco criação exclusiva dos ciganos? Se definimos o flamenco como cigano, havemos de convir tratar-se de ciganos tornados sedentários e estabelecidos na Andaluzia. De onde vinham eles?
Do vale do Hindo onde, empurrados pelas tropas de amerlão, teriam - a partir da India ganhado a Europa pelo Egito, a África do Norte ou os Bálcãs. O grupo conduzido por João do Egito Menor penetrou nas terras de Alfonso V de Aragão, que deu-lhes o direito de lá se instalarem livremente (1425).

Durante todo o século XV os ciganos conheceram um periodo de paz, que lhes permitiu entrar em simbiose com o folclore andaluz. Desse encontro nascerá o flamenco, canto profundo marcado pela melancolia, o fatalismo e o sentimento trágico da vida. De alguma forma, os ciganos fizeram emergir toda a riqueza artística acumulada durante séculos na Andaluzia, que viu se sucederam fenícios, romanos, bizantinos, visigodos, e coabitarem cristãos, judeus e muçulmanos.

A verdade histórica encontra-se a meio caminho, entre os que consideram que os ciganos estão na origem das formas primitivas do flamenco e os defensores ferrenhos de um "andaluzismo ean-Marie Lemogodeuc e Francisco Moyano sustentam que houve "uma lenta transição entre o substrato folclórico andaluz - constituído de romances, canções e danças populares, que originaram os corridos ou romances gitanos - e as tonás gitanes do canto profundo". Pode-se, portanto, considerar uma evolução progressiva e insensível dos ritmos e canções populares andaluzes rumo a uma "ciganização".

Ao redigir em 1783 As Regras para conter e castigar a errância e outros malfeitos daqueles chamados ciganos, Carlos III coloca o cigano numa situação jurídica de igualdade com os espanhóis e vai tornar possível a emergência do canto e da dança flamenca.

El cante

O primeiro nome conhecido de cantaor profissional é e de Tio Luis 1 de la Juliana. Há ainda El Planeta (criador da seguiriya) e seu discípulo El Filio. Eles vivem no início do século XIX e são todos ciganos.

A primeira referência àquilo que pode ser considerado como do flamenco encontra-se na obra Escenas andaluzas (Cenas andaluzas) de Serafín Estébanez Calderón, publicada em 1847: no capítulo "Dança em Triana" o autor enumera nomes precisos de cantos e de cantores.

Após a primeira geração do flamenco, de 1800 à 1860, vem a da idade de ouro, de 1860 a 1910. Os primeiros cafés de cante ou cafés cantantes (cafés-concerto) são abertos em Sevilha a partir de 1850: Los Lombardos, ei A renal, las Friperas, o Café de Variedades... Mas é principalmente com a abertura de "El Burrero" em 1880 (que se tornará "Café dei Burrero") e do "Café de Silverio" que o cante entra em plena atividade.
Constate-se aí que os artistas "payos" (os não ciganos, em espanhol) são duas vezes mais numerosos que os ciganos. Os cafés cantantes teriam pois permitido aproximar as tradições andaluzas (Malaguenhas, Verdiales, Granadinas, Tarantas) e cigana (Se guiriyas, Soleares, Martinetes, Bulerias, Tangos...). O cantor permaneceu durante muito tempo o personagem principal mas, com o tempo, o guitarrista assumiu crescente importância. O nível geral melhorou e os guitarristas inventaram novas técnicas.

O desenvolvimento dos cafés cantantes teria desencadeado um transtorno irreversível na histór do Flamenco. A partir daí, ele deixa de ser uma exclusividade cigana; sai do universo privado e familiar para se transformar em espetáculo lucrativo. Abre-se assim a terceira fase do flamenco e sua teatralização.

El baile

No inicio do seculo XX artistas como Manuel de FalIa ou Ramorr Goniez de la Serna se inquietam: estaria o flanretrco em decadência? Para manter vivas suas foiites criam um concurso de Cante Jondo, corri a intenção de dar a preferência aos "Cantaores que evitam as fiorituras abusivas". Ele acontece em 13 de junho de 1922 ria praça de los Aljibes, eni Alhambra. Acima do prêmio outorgado a Niíio Caracol, o que importa é a tomada de consciência pelos intelectuais da época corno Federico Garcia Lorca da dignidade e da riqueza do flanretrco.

Mas por outro lado o espetáculo teatral assume uma importância bem particular, jã que ele fará o flamenco conhecido mundo a fora. Não se trata mais somente de tablao, mas de cenas de teatro.

Em 1929, Antonia Mercê, "La Argentina", cria a primeira companhia de balé espanhol, que estréia ria Opéra Comique de Paris. Vicente Escudero apresenta, também ria capital francesa, suas primeiras criações e redige seu Decálogo da Dança flaumermca (1949). É sem dúvida nesse momento que, no inconsciente coletivo, o baile (a dança a que atualmente se associa o termo flamenco) suplanta o cante.

O baile é o prolongamento do cante. Dele emana e se alimenta. A flama é animada pela voz do cantaor e, segundo Jean Cocteau, "o dançarino se consume nesta chama". A osntose é tal que o nome das danças é o mesmo que o dos cantos.

Como o cante, o baile é leve nas alegrias, burlerías, rumba e patético nos soleares, seguiriyas e martinetes. E é a tradição:
como o cantor, o dançarino passa de um estado de tensão dramática a um estado de calma. Por exemplo: a dança que acompanha os soleares vê-se atenuada e adocicada, no momento de seu paroxismo, por uma passagem a um ritmo de bulerías ou a outros ritmos feitos do mesmo estilo.

Ao estrear no teatro, o flamenco viveu um período de transição, onde por vezes a imagem exótica prevalece sobre a autenticidade. Mas não houve erosão do gênero, e após algumas indecisões, a arte do flamenco encontrou em grandes artistas (La Argentina, Carnren Amaya, Antonio Ruiz Soler, La Chunga, El F~rruco, ou ainda Antonio Gades e Christina Hoyos) sua força de emoção e de paixão.

Os viajantes do século XIX já observavam que é no domínio da dança, dos ritmos e da harmonia que a arte flamenca utiliza os elementos da arte sacra da Índia. Por suas atitudes, pelos simbolos mágicos desenhados por seus braços e seus dedos, a bailarina de flamenco não deixa de recordar ao espectador de hoje a dançarina indiana.

A dança, naturalmente, obedece a regras e deve curvar-se, imperativamente, às exigências do coam pás. O segredo do flamenco, porém, permanece inteiramente nas mãos dos artistas.

Adaptado a partir de
original de Martine
Planells publicado no
programa da Ópera de Paris

SÍNTESE:


1) Os mouros predommmirmaram na Espanha de 711 à 1492 (até a sua expulsão pelo rei Ferdimando e a rainha Isabel).

2) Encontramos aqui uma mistura musical de elementos orientais, judaicos, berbemes e gregorianos. A influência árabe ali foi notável, principalmente rias técnicas inarmônicas, utilizando intervalos menores que o semitom. Autores de mmmi estudo sobre o Flamenco (coleção Que sais-je?, muito popular na França)

No início do século XVIII ainda não se encontram sinais da palavra flamenco com designativa de um gênero musical, e as duas danças riais populares à época são o fandango e a seguidilla que, dançadas no teatro por profissionais, serão enobrecidas pela "Escuela Bolera" (a escola de balé clássico). A dança "flamenco", tal como é hoje praticada, nasceu no século XIX.


O Lado místico do Flamenco

A dança sempre esteve presente em todas as civilizações, em todos os povos, desde os primórdios, seja ela em caráter religioso (oferecida aos deuses ou ritualística), alegre (livre e descontraída) ou comunicativa (comunicação através do corpo).

Algumas civilizações antigas, bem como algumas tribos indígenas, praticavam a chamada "Dança da Terra. Essa dança era executada com os pés descalços e batendo simultaneamente no chão. Acreditavam que com isso, tornariam a terra fértil e se livrariam de todos os males físicos e espirituais, passando para a terra todas as doenças, dores e tristezas de que por ventura se apresentassem."

Esse aspecto também está associado à crença dos Ciganos Calóns que acreditam que o Flamenco tem o poder de "descarrego" através dos "taconeos".

2. OS QUATRO CAMINHOS DA VERDADE

Através de qualquer um destes 4 caminhos é possível chegar à verdade universal.

É o que explica a pirâmide:

1. arte - ÁGUA
2. ciêncía - TERRA
3. filosofia - AR
4. religião - FOGO


O centro, ou seja, o cume da pirâmide representa a verdade universal e cada lado, a subida por um caminho assim representado.

Por laços invisíveis e imperceptíveis, estão ligados entre si, pois significam e levam a uma mesma coisa: a Verdade.

Mas como em todo caminho existe muitos desvios e obstáculos...

3. NUMEROLOGIA CABALA E FLAMENCO

Certos ritmos dentro do flamenco são considerados pelos Ciganos Calóns e alguns estudiosos, como mágicos devido a seus compassos rápidos, marcados, violentos e sutis ao mesmo tempo.

Por exemplo: Temos as "Siguiryas", na qual cada compasso compõe-se de 5 tempos. Numerologicamente este rítmo representa a estrela de 5 pontas e toda sua simbologia, além do signficado do número.

Cada ritmo possui um símbolo e um significado, um número e uma finalidade.

Tudo isso será estudado no último período profundamente.

Essas informações são aqui expressas para somente lhe conscientizar a respeito deste lado da arte da dança flamenca.

4. O PODER DA DANÇA

Todos os místicos, magos, ciganos e esotéricos afirmam que, quando a dança é executada em toda sua plenitude, onde a pessoa está completamente entregue a dança e a música, ela atinge um certo estado de transe e nesse estado é capaz de direcionar essa energia que está sendo produzida para a realização de seus desejos mais profundos e intensos, mentalizados e programados em seu inconsciente.

Além de proporcionar estados de plena felicidade, satisfação, contentamento e uma renovação total de energia, a pessoa que dança se torna mais disposta para o dia-a-dia, vencendo seus obstáculos e tendo mais força para lutar nos revezes de nosso cotidiano urbano.

A dança nos faz "ficar de bem" com a vida!

E quando uma pessoa fica de bem com a vida, a vida sorri para ela !!!



Os Trajes


Existem 4 modelos básicos de trajes flamencos que se associam aos 4 elementos e aos 4 caminhos universais da Verdade:

1. HOMEM Camisa social e colete

1. MULHER Saia comwn comprida, representa o elemento fogo e o caminho da religião.

2. HOMEM Somente camisa social e uso de bengala.

2. MULHER Saia que vem justo nos quadris e coxas saindo babados a par/ir do joelho, representa o elemento terra e o caminho da ciência. Uso de pandeiros.

2. HOMEM Um blaiser sobre a camisa social e colete

3. MULHER Bata-de-cola, representa o elemento água e o caminho da arte. Uso de xales.

4. HOMENS Uso de chapéu e punhais e camisa bufante.

4. MULHERES Saia comum, porém um pouco mais curta na altura da panturrilha, representa o elemento ar e o caminho da filosofia. Uso de Leques.

Assim como os trajes, as músicas também se associam aos elementos de acordo com seus ritmos.

Pequeno Dicionário Flamenco:

Ay! - exclamação que introduz ou acompanha numerosos cantos.

BaiIaor(a), Cantaor(a) - bailarino(a), cantor(a) de flamenco. Deformação das palavras espanholas bailador, cantador pelos andaluzes. O termo bailarino designa o dançarino de balé clássico.

Braceo - port de bras dos dançarmos de flamenco.

Cante jondo ou Cante grande - cantos profundos como a seguiriya, a solea e o martinete, em oposição ao cante por fiesta (buleria, tango, alegria...), bem mais alegre.

Jondo é a deformação da palavra "hondo" (profundo). Termo proposto por Manuel de FalIa e Federico Garcia Lorca para substituir a palavra "flamenco", julgada restritiva no inicio do século. O cante jondo se aplica aos cantos que encerram ressonâncias primitivas, graves, e cuja força de expressão nasce dos sentimentos mais íntimos. Federico Garcia Lorca diz que no cante jondo "as gradações mais ilimitadas da Dor e da Pena, colocadas a serviço da mais pura e mais exata expressão, batem nos tercetos e quadras da seguiriya e seus derivados".

Copia - pequeno poema de três, quatro versos, que serve de texto para as canções populares e para o flamenco.

C ompás - compasso (ritmo de uma frase musical). C uadro - grupo de artistas de flamenco, composto de cantores, guitarristas e dançarmos reunidos para um espetáculo.

Duende - do sânscrito "divindade". O dicionário da "Real Academia" da a seguinte definição: "O misterioso e inefável encadeamento do Cante f/amenco~. Federico Garcia Lorca escreve em Teoria y Juego dei Duende: "o Duende é um poder e não um ato. Uma luta e não uni pensamento". Ele conta o que uni velho mestre de guitarra dizia: o Duende não está na garganta; o Duende sobe internamente a partir da planta dos pés". Para os "flamencos" énecessário compreender que o Duende é uru estado de graça que surge de modo inesperado e que não tem duração mensurável. E tarnbém o arrepio extático comunicado por certos artistas, que se manifesta sobretudo no baile e no cante por fiesta.

Gracia - dom de leveza e... de hunior, manifestado no baile. Quanto às danças lentas, elas requerem "ei arte", o grande estilo.

Jaleo - palavras "OLÉ !","VIVA DIOS !", palmas e outras manifestações que servem para encorajar os artistas.

J uerga - "fiesta flamenca" com cantos, danças e vinho (fino) à vontade.

M antõn - grande xale de seda com franja, indispensável ás sessões das bailaoras. Outros acessórios: o leque (habanico), as flores nos cabelos, o vestido de cauda (bata de cola) para os espetáculos. As castanholas (castanuelas) não são propriamente "flamencas"; elas provêm do folclore e do balé clássico espanhol.

Marcar - dançar, sem zapateado, geralmente durante o canto.

Palmas - bater de mãos que acompanha o cante ou o baile, sobre o tempo ou no contratempo. Há dois tipos de palmas: as palmas "normais" ou sonoras (bate-se na palma de uma das mãos com os dedos da outra) e as palmas "sordas" (surdas) utilizadas para evitar prejuízo à audição do canto (bate-se com as duas palmas, uma contra a outra).

Peña - associação de aficionados (aficcionados).

Pitos - estalar de dedos para marcar o ritmo.

Remate - movimento acentuado dos pés ou do corpo para terminar um compasso. Serve para fechar uma série ou um Conjunto.

Tablao - cabaré "flamenco", munido de um estrado de pranchas, e que se inspira nos antigos cafés "cantantes".

Taconeo - série de golpes ritmados, dados com o salto (tacôn). Toque - do verbo tocar. Designa a ação de tocar como o som produzido.

Zapateo ou Zapateado - como autêntico percussionista o bailaor dispõe de seus pés como de uma bateria. Originário de Cádiz, esse uso remonta ao século XVI. Hoje essa maneira de dançar - sóbrio nas atitudes - consiste em vibrar o solo com o pé num conjunto rítmico ordenado (sendo os sons produzidos por três movimentos sucessivos: ponta, salto, ponta - punta, tacón, punta). Existe um parentesco com o katak indiano.

Adaptado de texto original de
Martine Planells publicado no
programa da Ópera de Paris

Algumas Danças Flamencas

Tango - não deve ser confundido com o tanto argentino. Trata-se de uma adaptação desta dança feita pelos ciganos que se popularizou na Espanha em meados do século XIX. De ritmo binário, o tango tornou-se uma das danças mais características do flamenco. Dança da sedução, seus movimentos são elegantes, chegando a ser espevitados ou alusivos. Os tangos deixam ao bailarino um amplo espaço para a improvisação pessoal.

Bulería - o nome vem de burla (zombaria, blague) ou de bulia (agitação). A bulería nasceu no final do século XIX e permite todos os tipos de improvísações. E cantada e dançada ao ritmo de uma soleá muito leve (a soleá é, com a seguiriya, uma das bases do flamenco). E um canto festivo criado, ao que parece, pelos ciganos de Jerez. O bailarino deve seguir um compás alternado. Em um ciclo de 12 tempos, sucedem-se dois tempos longos e três breves. Esse tipo de compás funciona na realidade de maneira muito complexa: o ciclo pode começar seja sobre os tempos 12, 1, etc., dividir-se em dois, três ou quatro sub-partes e superpor várias escanções simultâneas. Sobre este ritmo, a bulería, alegre ou sentimental, libera todas as energias.

Alegría - como reconhecer uma alegria? Talvez pelo "tiritran, tran, tran" que inicia. Como seu nome o indica, é uni canto e uma dança de contentamento, de alegria, que se desenrola sobre um cornpás alternado. As alegrias mais célebres vêm de Cádiz.

Farruca- do árabe "faruq" - que significa corajoso, o sobrenome dado pelos andaluzes aos imigrantes galegos ou asturianos). Cante de origem galega que absorveu inegáveis influências andaluzas, especialmente da região de Cádiz. Suas características: a doçura, a cadência e a melancolia. A dança se apoia sobre um com pás regular em tempo binário (estruturas a 2 ou 4 tempos por compasso, em ciclos de 4 ou 8 compassos). Adaptada ao homem, a farruca é lenta, nobre e grave com pausas muito precisas. Os pés percurtem constantemente o solo com violentos golpes dos saltos. Sua grande dificuldade reside nos desdobramentos em contratempos que alternam com os passos que lhe são peculiares. Foi La Trico coe, Léonide Massine introduz uma farruca que é o momento mais esperado do balé.

Romera - parece derivar de uma palavra repetida varias vezes nos mais célebres textos de copias. Romera teria o sentido de "mulher", de amante. O cante tem o niesrno compás que as alegrias e as bulerías (estrutura rítmica de doze tempos), que faz dele um cante inteiramente apropriado à dança.

Adaptado do programa da Ópera de Paris.

fonte:Arte e movimento



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terça-feira, 31 de agosto de 2010

A CRIAÇÃO DE "DEUS"

Desejo, necessidade, carência, emoções, sentimento, prazer e dor. Essas são as forças que comandam o ser humano. Elas originaram todas as criações humanas. Não importa o quão importantes ou insignificantes tenham sido essas realizações. Que necessidades e sentimentos deram origem às religiões? Várias emoções deram origem às crenças religiosas. Sem dúvida, o medo foi a emoção que mais provocou esses sentimentos no homem primitivo.

Medo da fome, de animais, de doenças, da morte e mais uma infinidade. Como o conceito de causa e efeito era mal desenvolvido nesses seres primitivos, eles atribuíam causas sobrenaturais a todos os fenômenos naturais. Como o ser humano era capaz de manipular a matéria e criar artefatos, ele calculou que o mundo era uma espécie de artefato criado por um outro ser ou seres maiores que ele, mas análogo a si próprio. E atribuiu as desgraças e felicidades que lhes aconteciam a esses seres.

Assim, explicavam os acontecimentos recorrendo a causas sobrenaturais. Tudo era explicado através de lendas e mitos. Pois tudo era causado por deuses ou demônios. Não existiam causas naturais em suas concepções. Se tinham um ferimento ou uma moléstia qualquer, não procuravam uma causa natural para os mesmos, já sabiam as causas. Os deuses ou demônios tinham sido contrariados de algum modo. A única maneira de acabar com o sofrimento era através de súplicas a esses seres sobrenaturais. Às vezes, esses deuses ou demônios exigiam sacrifícios.

E os primitivos não hesitavam em obedecer. O conceito de deuses e demônios evoluiu com o tempo, mas, no entanto, a ideia central foi passada de geração em geração. Tanto que ninguém nunca questionou ou questiona até hoje essas ideias. Ideias desenvolvidas pelo homem primitivo. Geradas principalmente pelo medo.

Logo alguns perceberam que esses deuses e demônios podiam ser usados de modo lucrativo. Através deles o povo podia ser levado à obediência. Mães e pais começaram a propagar esse tipo de crença e a gerar demônios aos montes, afinal, é mais fácil controlar uma criança pelo medo do que pela razão. Tanto que, até hoje, existem mais demônios que deuses. A criança ficava mais fácil de ser manipulada se tivesse medo do bicho papão e de todos os tipos de monstros que pudessem imaginar.

Cedo surgiu uma classe de pessoas que se diziam mediadoras entre demônios e deuses e o povo. Diziam que tinham poderes especiais para aplacar a ira desses seres terríveis. Deu-se inicio aos rituais. Assim surgiu provavelmente a mágica, pois o povo precisa de um espetáculo para acreditar que alguém tem poderes especiais. E o que era uma simples mágica se tornava milagres incríveis para o cidadão comum, e dado o desejo de impressionar que motiva a maioria dos humanos, esses truques se tornavam milagres cada vez maiores de geração em geração. Nunca subestime o poder de exagerar do ser humano.

Lógico que toda tribo, todo povo, tinha um líder ou líderes. E esses líderes logo perceberam que o poder que os mediadores entre o natural e o sobrenatural tinham sobre o povo podia lhes ser muito útil. Os líderes tinham o poder da força. Podiam obrigar o povo a fazer o que quisessem. No entanto, nenhum líder quer um cidadão rebelde. Quanto mais mansos, melhores. Ao menos, mansos em relação ao líder. Seria muito mais fácil para eles que os cidadãos aceitassem obedecer de livre e espontânea vontade, e se possível ainda deveriam ficar felizes em fazer a vontade do líder. Daí surgiu um outro uso para a religião.

Quando um líder administrava mal sua tribo, logo achava um demônio ou deus que “estava” atrapalhando seus planos. E pedia aos sacerdotes que aplacassem a ira do mesmo. Afinal, eles não podiam admitir que eram incompetentes. Tudo deveria ser causado por deuses ou demônios. Não existiam causas naturais.

O povo também às vezes se rebelava por achar que o líder tinha atraído a ira de um deus ou demônio. Convinha ao líder respeitar os mediadores, pois os mesmos podiam levar o povo a crer que o único modo de melhorar as circunstâncias era eliminando o líder que tinha atraído a ira dos deuses ou demônios. Daí surgir o respeito dos líderes às autoridades eclesiásticas. O líder tinha a força como poder, mas os mediadores tinham deuses e demônios como ferramentas. E que forças terríveis elas são.

E assim o poder secular e o poder eclesiástico começaram o seu reino. E religião e política sempre andaram ligadas desde então. Um casamento duradouro. Outros fatores contribuíram para o advento da religião, é claro.

Nos baseamos nas qualidades de nossos pais e líderes para explicarmos as qualidades e defeitos de Deus. Todos os atributos, bons e ruins, vieram desse tipo de comparação. Queremos o apoio e o carinho de nossos pais, e é claro, queremos o mesmo de Deus. Agradamos nossos pais e líderes, e sendo Deus uma superautoridade, queremos agrada-lo mais ainda. Tememos nossos pais e líderes e o mesmo acontece com Deus.

Esse Deus social pune e recompensa. Apoia e auxilia. Nos conforta em tempos difíceis. Nos protege quando estamos em perigo. Esse Deus tanto pode ser pessoal, como tribal ou pode incluir até mesmo toda a raça humana. Mas ele veio de uma comparação com as autoridades em nossa vida. Daí muitas religiões pregarem que a rebeldia contra uma autoridade qualquer seja uma rebeldia contra Deus. Desobedecer ao pai seria semelhante a desobedecer a Deus. Desobedecer ao rei é desobediência à Divindade.

O medo da morte é uma outra grande motivação para as religiões. Todos morrem. Nossos pais morrem. Nossos filhos morrem. A morte está em toda parte. Para que você viva, algo tem que morrer. A morte é o preço da vida. Afinal, ninguém pode viver comendo pedras. Só seres vivos podem nos dar a energia para continuarmos vivendo.

O problema é que ninguém quer morrer. Todos se agarram à vida. É um instinto natural em todos os animais. Mesmo quando a vida é insuportável, os seres se agarram a ela. Seres humanos não poderiam escapar a esse apego ferrenho. Todos tentam preserva-la a todo custo.

Como os seres humanos são provavelmente os únicos animais a saberem que vão morrer, como essa ideia nunca os abandona, como esse medo é mórbido, a criação de um Deus não poderia ficar de fora.

Um único Deus não poderia explicar todos os fenômenos, daí todas as religiões terem demônios para explicar as coisas ruins, e daí também a ideia de um Grande Diabo. O chefão de todos os demônios. Pelo que eu saiba, nenhuma religião conseguiu escapar da criação desse ser. De algum modo, ele sempre existe.

Com o passar dos tempos, os seres humanos não se contentaram mais em simplesmente ter uma vida boa. Precisavam de algo mais. E também não suportavam a vida que levavam, pois a mesma sempre foi cheia de problemas. Tinham que defender seu conceito de Deus diante de tantas desventuras, daí o Diabo. Mas achavam que tinha que haver um plano de existência em que o Diabo não participasse, um plano perfeito, pois ninguém conseguia acreditar que essa nossa vida imperfeita fosse a única.

O ser humano começou a imaginar como seria uma vida sem a necessidade da morte. A morte, a grande destruidora. A morte, que torna todos os esforços inúteis. A morte, que sempre interrompe os planos dos mais prudentes. A onipresente morte. O ser humano tem uma imaginação estupenda. Quando concebe algo, tem o poder de criar as formas mais incríveis de realidade. E como a vaidade nos leva a nos agarrarmos a nossas ideias, e dado o fato de a ciência não existir num passado muito remoto, chegamos a acreditar veementemente em nossas ideias e imaginações. Não importando o quão sublimes ou ridículas elas fossem.

Do fato de não nos conformarmos com a morte, de desejarmos viver, não importando em que condições, surgiram todas as ideias sobre vida depois da morte. Afinal, como justificar um Deus todo bondade, se não inventarmos uma realidade em que o mal não existe? E para que Deus seja bondoso, como queremos que seja, precisamos inventar um céu. O céu é aquilo que o mundo deveria ser segundo expectativas humanas. As escrituras judaicas exemplificam bem tanto a religião do medo como a religião da moral, pois contêm ambos os fatores em seus dogmas. Deus está sempre ali tanto para punir como para recompensar, e é um moralista em todas as áreas da existência humana.

Todas as religiões tratam da moral e da ética e dos bons costumes. Mas, muitas vezes, o fato de fixarem pensamentos em forma escrita dificulta a evolução moral. Muitos acham que o que está escrito foi escrito por Deus e, portanto, é imutável. Mas o que deu origem à moral foi um fato passado que muitas vezes não existe mais. A religião moral é superior à do medo. No entanto, quase nenhuma religião contém somente um elemento, mas elementos tanto de medo como de moral. Geralmente os elementos mais avançados da sociedade seguem mais a religião da moral, e os mais atrasados a do medo.

Deus sempre é antropomórfico. Deus é sempre um homem gigantesco na maioria das religiões. Com todas as qualidades e defeitos do homem. Defeitos e qualidades ampliadas a proporções gigantescas, é claro. Isso acontece porque o homem não consegue conceber algo além daquilo que é. Ou daquilo que seus sentidos mostram.

Outros acreditam que Deus é algo inconcebível. Daí termos que acreditar pela fé ou não acreditar, pois não temos como provar a existência de tal ser. Ele está além de nossos sentidos, além do natural. Ou seja, ele é sobrenatural. Mas é impossível ao homem falar de algo que não conhece pelos sentidos. Daí usarem um palavreado incompreensível aos não iniciados.

Poucos indivíduos passam desse nível de Deus antropomórfico. Só as camadas mais avançadas da população chegam a conceber um Deus como uma força, algo totalmente diverso do ser humano. Algo transcendente. As religiões do Oriente chegaram a transferir esse pensamento para muitos dos membros da população. Mesmo assim, o povo, na sua maioria, não consegue conceber Deus como uma força. As religiões do Oriente não conseguiram passar esse pensamento nem para as camadas mais avançadas, muitos tem esse pensamento, mas a maioria ainda ora para um Deus pessoal. Parecido com ele mesmo, e a ideia de que o homem é a imagem de Deus ainda torna esse pensamento mais difícil de mudar.

Existe uma outra forma de conceber Deus. Podemos concebe-lo como o Cosmo. O Universo. Tudo que existe. Essa forma se chama Panteísmo. Que é uma forma de adorar o Universo chamando-o de Deus. Essa forma de adoração esta presente em todos os níveis. Muitas tribos primitivas adoram a natureza e a chama de Deus, e muitas pessoas avançadas são ateias, mas veneram tanto o Universo que o mesmo se torna Deus.

Alguns indivíduos adoram a ordem que permeia o Universo como a um Deus. Sentem um sentimento de encanto ante a imensidão do cosmo, a ordem e as leis que o regulamentam. Sentem grande prazer em descobrir tudo sobre esse cosmo. Esses são, em geral, cientistas que se contentam em deixar seus desejos mundanos (ligados ao mundo) de lado, e se concentram em descobrir os mistérios que os permeiam. Esse mistério e seu desvendamento se tornam uma religião para eles. Einstein é um exemplo desse tipo de pensamento, assim como Espinosa.

Eles procuram experimentar o Universo como um todo harmônico. E para isso, têm que se desvencilhar dos pensamentos voltados para si próprios, dos desejos e problemas individuais — e se concentram no cosmo e seus mistérios como missão de vida, e não em dinheiro e problemas pessoais.

É claro que esse tipo de religião nunca agradou a maioria. Essa maioria está mais interessada nos problemas do dia-a-dia e precisam de um Deus mais mundano que possa lhes ajudar a superá-los. Precisam de um Deus pessoal que lhes entenda e lhes ajude nas horas mais difíceis. E o Universo ou cosmo é indiferente às suas criaturas. O Universo não é nem bom nem ruim. Ele simplesmente é neutro. Não se preocupa com as criaturas que nascem dele.

O ser humano quer ser visto, de algum modo, quer se sentir importante, importante para alguém, sua vaidade não vai deixar essa ideia morrer facilmente. Dessa forma percebemos qual é a grande diferença entre religião e ciência. A ciência se baseia nas leis da Causa e Efeito e, portanto, não pode conceber que exista um ser mudando as leis segundo caprichos de sua vontade. Para a ciência, tudo tem uma explicação natural, não sobrenatural. As causas de todos os males ou bens do ser humano são naturais e não sobrenaturais.

Um cientista não acredita nem na religião do medo e nem na da moralidade. Moralidade concerne somente aos seres humanos e não ao Cosmo. Um Deus que pune e recompensa é inconcebível para ele.

Todas as ideias dos homens vêm de fora de algum modo. Da sociedade que o cerca, dos livros que lê, das influencias da sua vida. Além de influencias de sua própria natureza. Pois cada um tem um modo de ser que é determinado pelos seus próprios genes. Alguns nascem calmos, outros agitados. Uns com propensão à violência, outros não.Uns são tigres, outros coelhos assustados. Uns tem corpos altos e fortes, outros são baixos e fracos. E assim por diante.

Como pode Deus castigar ou punir alguém quando pelo menos 90% da personalidade de uma pessoa são determinados por causas acima de seu controle? Além do mais, existem várias religiões na Terra. Cada uma com regras específicas para se entrar no céu. Sendo assim, como pode uma pessoa ser salva simplesmente por ter tido a sorte de nascer no local adequado? Sabemos muito bem que 90% das pessoas adotam a religião de seu local de origem ou uma variante da mesma. E mesmo quando mudam de religião radicalmente nunca conseguem deixar por completo as crenças adquiridas na infância. Mudam de religião, mas seu comportamento continua compatível com as crenças anteriores. Cercado como está de influências tanto internas como externas acima de seu controle, que critério usaria Deus para julgar o homem?

O comportamento ético de um ser humano deve se basear em suas necessidades sociais e individuais, a religião não precisa entrar nessas questões. O melhor guia para o comportamento social é a razão. Tudo gera consequências. Toda causa gera um efeito. Regras fixas de comportamento não são compatíveis com o ser humano, pois fatos sociais mudam o tempo todo. O exemplo do sexo que dei acima é um deles. Quando a religião tenta engessar um tipo de comportamento, está indo contra o próprio progresso humano, pois tenta fixar aquilo o que não deve ser fixado. O ambiente muda o comportamento. E um comportamento mal adaptado leva ao sofrimento. Todo organismo deve fazer tudo para sobreviver da melhor maneira possível, e a maneira pela qual um ser humano sobrevive é usando sua mente para seu benefício e para o benefício da sociedade como um todo. Se cuidar de progredir, acabará ajudando a todos.

A educação tem um papel fundamental como meio de influenciar o comportamento dos indivíduos. Convém ensinar as pessoas a pensar e a agir em sociedade. As escolas deveriam se voltar para formar um bom cidadão e não somente fazer com que pessoas acumulem conhecimentos que nunca serão utilizados. A escola deveria ensinar lógica, matemática e línguas desde o começo. A lógica serve para evitar que as pessoas sejam presas fáceis de qualquer aproveitador que apareça pela frente.

A religião mantém as pessoas na infância eterna. Sempre se entregando a alguém para resolver seus problemas pessoais. A falta de consciência em suas faculdades mentais e o complexo de inferioridade faz com que muitos parem de pensar logicamente e se entreguem a todo tipo de pensamento, por mais absurdo que seja.

As pessoas raramente analisam as tradições de seu povo. Simplesmente aceitam tudo. Será que isso é bom para a raça como um todo? Será que não precisamos de mais rebeldes ao invés de mais conformistas? Todo avanço foi uma rebeldia. Uma rebeldia contra os padrões vigentes. Rebeldia não significa ser do contra, significa ser verdadeiro consigo próprio. Fazer as coisas em que se acredita, e não fazê-las simplesmente por que todos fazem. Rebeldia também não é ir contra tudo só para ser diferente. Rebeldia é fidelidade à nossa natureza intima. Não é ser do contra ou a favor. É ser integro com o que se acredita.


Sobre o autor: José Moreira da Silva é formado em Filosofia pela Universidade de Nova Iorque e atualmente é professor de inglês, tradutor e intérprete, e dedica-se ao estudo da natureza humana através da psicologia, filosofia e religião.



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segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Paganismo e Neo-Paganismo

Por Claudio Crow Quintino



Paganismo e Neo-Paganismo

druid stonehenge - druid stonehenge


Estive anotando algumas idéias que me surgiram recentemente e, após ler algumas
das últimas mensagens postadas na lista (OUTRA lista, n. do A.), fui levado a
algumas reflexões que julgo importantes, as quais gostaria de compartilhar com
os demais participantes da lista.

Em primeiro lugar, tenho notado uma grande confusão quanto à historicidade dos
fatos discutidos em algumas msgs. A começar pela noção de PAGANISMO E
NEO-PAGANISMO.

Nenhum de nós, petencentes a tradições como Wicca, Druidismo, Stregheria e
outras facetas da Religião da Deusa, poderia em sã consciência se intitular
Pagão - pelo simples fato de que o Paganismo, o culto do "pagus" (Campo,
Natureza) originário da Europa, deixou de existir há muito tempo, salvo em um ou
outro rincão isolado. Todos sabemos que o Druidismo existente hoje é uma
re-leitura dos conhecimentos druídicos originais. Sabemos também que a Wicca
possui inflências Celtas, mas está muito longe de ser o mesmo que Religião
Celta.

Assim, para efeito de diferenciar um do outro, acredito que o ideal seria
utilizarmos os termos pagão e neo-pagão. Para facilitar, contudo, muitos
utilizam apenas "pagão", independente da época de que se esteja falando. Mais
importante que o termo, porém, é o tema. E creio que É VITAL QUE SAIBAMOS
DIFERENCIAR AS TRADIÇÕES MODERNAS DAS ORIGINAIS.

Essas tradições originais chegaram até nós de diversos modos: pela preservação
de costumes populares, pelo estudo de sociólogos, lingüistas, arqueólogos,
folcloristas, etc., através do sincretismo religioso, pelos tais rincões que
preservaram de modo até certo ponto puro o conhecimento e os mistérios das
tradições antigas.

Baseados nessas informações, alguns indivíduos ou grupos de pessoas resgataram e
reacenderam a chama dos antigos cultos pagãos, dando origem a tradições
Neo-pagãs - ou seja, uma nova forma de paganismo, inspirada nas antigas
tradições, mas sem vínculo direto com elas.

Tomemos o exemplo da Wicca, a mais brilhante e conhecida forma de Neo-paganismo.
Quando da minha última conversa com a Marcia Bianchi aqui em São Paulo,
lembro-me que concordamos que a Wica (com um "c" só - o segundo veio depois)
apresentada por Gerald Gardner tinha pouco a ver com o que ela representa hoje.

Costumo dizer que os bons Wiccanos hoje reconhecem os méritos do Sr. Gardner
como compilador das antigas tradições, mesclando elementos de diversas tradições
na formação da Wicca como a conhecemos. Mas a Wicca, por seus méritos
intrínsecos, livrou-se de seu criador, e hoje é muuuuito maior do que ele.

Para efeito de comparação, vejamos o caso de Thelema. É impossível falar de
Thelema sem falar de Crowley. Mas hoje dá para falar de WICCA sem falar de
Gardner.A Wicca adaptou-se à sua época, e hoje é definitivamente uma Religião,
com crenças e filosofias próprias. Digo "hoje" porque antes não era - era apenas
um "sistema de magia", como alguns adoram rotular.

A Wicca hoje é então uma Religião, que oferece aos que a procuram uma ótima
oportunidade de compreender seu papel no universo, compreender que fazemos parte
de um todo, compreender que a vida já é um ato de magia, e que, muito mais do
que um celebrador de rituais ou um lançador de encantamentos, o verdadeiro
Wiccano é um adorador da Vida - ou assim deveria ser. Mas disso falarei no
próximo e-mail...





- Sobre Wicca e discussões na lista.

Fico entristecido quando vejo discussões na lista motivadas pela defesa de
pontos de vista pessoais quanto a aspectos MERAMENTE ACESSÓRIOS da Wicca. O
tamanho de um athame, o material de seu bastão, a cor das vestes rituais (Ah!
Isso dói...), Roda do Sul ou do Norte - isso são temas que serão eternamente
revisitados, O QUE É SAUDÁVEL, POIS NINGUÉM É DONO DA VERDADE. Deve-se discutir
tais temas, porém, com a mente livre de quaisquer doutrinamentos.

Afirmar que "é assim, tem que ser assim, por que comigo (ou no meu círculo)
éassim" é derrubar todos os preceitos básicos da Wicca. Ok, também não pode
haver um excesso de liberdade, para que haja coerência.

Mas afinal, quais são os preceitos básicos da Wicca? Semanas atrás, a Marcia
descreveu muito bem, como de costume, o que deveria caracterizar um Wiccano. Mas
nós sabemos que existem inúmeras, infindáveis tradições Wiccanas diferentes,
muitas delas oferecendo conjuntos de crenças diferentes, por vezes contrárias
entre si. Todas elas cultuam os Divinos Feminino e Masculino, todas elas se
integram aos ciclos da natureza, mas variam nos detalhes.

Por que? Porque existe a noção de liberdade - e essa liberdade funciona assim:
se respeito esses preceitos básicos, eu posso celebrar um ritual nu ou trajando
uma túnica de algodão puro, ou ainda uma capa de seda roxa com pedras preciosas
incrustadas... posso abrir o círculo começando pelo norte, ou pelo leste, ou
ainda pelo Sul-sudoeste... Posso traçar o círculo mágico com um athame de prata
importado, ou com uma faca inox de pesca, ou com a saudosa faquinha de Bolo
Pullmann... Posso celebrar a Roda do Ano de acordo com o Hemisfério Norte, ou o
Hemisfério Sul ou ainda a Roda da Linha do Equador, ou a Roda Quadrada, ou a
Quadra Rodada, ou o Triângulo do Sapo Leitoso... o que importa? Para quem isso é
importante?

Afinal, por que clebramos a Roda do Ano? Não é a Roda um método de contato com
as energias da Natureza, com os Divinos Masculino e Feminino? Não é um modo de
conhecermos e honrarmos os Deuses da Terra?

E acaso esses deuses vão se ofender, vão nos punir se fizermos deste ou daquele
modo? Não creio. Creio sim que eles se emocionem, se engrandeçam, com a nossa
simples lembrança, com nosso amor por eles - amor sincero. Amor autêntico,
daqueles que vêm de dentro mesmo, rasgando tudo. Para mim, a sensação de cultuar
os deuses antigos é igualzinho àquele arrebatamento que sentimos ao ver, ao
lembrar, ao falar da pessoa que amamos. Sabe aquele pueril friozinho na barriga
que dá quando vemos a pessoa de que gostamos? Então, os
deuses para mim são assim!

Acho que o grande erro é fazer por fazer. Digo e repito que os rituais são como
sexo (e afinal, temos lá o grande rito, não é?) - Alguém já tentou transar sem
sentir tesão? (Dizem que as mulheres até conseguem fingir - mas eu sempre achei
que deve ser uma m... de situação...) Se não houver tesão pelo ritual, não vai
rolar! Imaginem transar pensando que o lençol tá amarrotando, ou que o cabelo
tem que ficar penteado, ou que o suor pode desfazer sua maquiagem... Mesma coisa
num ritual. Se a pessoa estiver mais preocupada com a "liturgia", com a cor
disto ou daquilo, com o tamanho disto ou daquilo, com a direção disto ou
daquilo, não vai rolar!!!! A parte fundamental da estória toda é: ame os deuses!
Reconheça o Divino na Vida! Celebre os deuses e a Vida, não só nos rituais, mas
em cada dia, a cada momento de sua vida!!! O resto é resto...

Voltando às discussões sobre os temas acessórios da Wicca, temos que lembrar que
muitas das chamadas tradições "ecléticas" da Wicca utilizam deuses de diversos
panteões em seus rituais. Deidades Celtas, Gregas, Egípcias, Sumérias, são
postas lado a lado em altares e preces, rituais e orações... será que isso é
legal? Veremos no próximo e-mail.



3.

Muitos autores Wiccanos afirmam que "todas as Deusas são aspectos de uma só
Deusa, assim como todos os Deuses são faces de um Deus único."

Isso justificaria a opção comum de muitos Wiccanos em celebrar seus rituais,
montar seus altares, etc, utilizando deidades de panteões diferentes. Claudiney
Prieto, em seu livro "WICCA: A RELIGIÃO DA DEUSA", alerta para os riscos de se
evocar deuses de panteões diferentes, ou ainda deuses que seriam rivais em um
mesmo panteão. Ele ainda afirma que prefere cultuar um Deus e uma Deusa sem
nomes específicos, valendo-se apenas de seus temas, suas facetas - ou seja, "A
Anciã," "O Senhor da caçada", e por aí vai.

Pergunto - ou melhor, proponho que vocês se perguntem, e respondam para si
mesmos - qual o caminho mais indicado? Por ser a Wicca - e quase todos os
Caminhos pagãos e neo-Pagãos - uma religião que pede respostas íntimas,
equilibradas igualmente nas emoções e na análise racional do tema, a resposta é
PESSOAL.

A minha resposta a tal pergunta seria a seguinte: na Wicca, a união de diversas
deidades distintas se justifica pelo culto aos chamados "arquétipos" da Deusa e
do Deus. Todos seriam um, todas seriam uma. Se é assim, então não existe a menor
necessidade de se individualizar o culto a este ou aquele deus individual, a
este ou aquele panteão. O que vale mesmo é a idéia central, a noção básica. Isto
está perfeitamente de acordo com a Wicca e com suas práticas, e mais uma vez
parabenizo o Claudiney pela coragem em expor a sua visão pessoal em seu livro.
DENTRO DO CONTEXTO DA WICCA, isso é perfeito. Isso até justificaria a inversão
da Roda do Ano, pois se eu lido com as forças masculina e feminina presentes na
natureza, sem lhes dar nomes, eu interajo com o que vem acontecendo ao meu
redor, livre das influências das conhecidas egrégoras das deidades.

Contudo, existem outras correntes pagãs, também voltadas ao culto aos deuses
antigos, como o Neo-Druidismo, o Reconstrucionismo Celta e outras, as quais
embasam suas práticas mágico-religiosas na recuperação dos ritos ancestrais às
respectivas deidades. Nesses casos, é impensável para um reconstrucionista
celta, por exemplo, evocar em um ritual Inanna, a deusa mãe Suméria, ou o hindu
Çiva... isto porque essas correntes pagãs honram seus deuses como forças
individuais, e não como facetas de um mesmo deus. Um exemplo que uso sempre é o
seguinte:

eu nasci no Brasil, o que faz de mim um brasileiro. Eu sou do sexo masculino, o
que faz de mim um homem; eu sei escrever, o que faz de mim um alfabetizado.
Então, por reunir esses três itens (brasileiro, homem, alfabetizado) eu,
Garrincha e José Bonifácio somos a mesma pessoa... ora, possuímos alguns pontos
em comum, mas não somos uma única pessoa! Estamos inclusive separados pela época
em que vivemos - sem contar que dois já morreram (garanto que eu não!).

Então, o fato de um determinado deus ou deusa possuir um tema em comum com outro
deus ou deusa de um pantão diferente, não faz necessariamente deles um único
deus ou deusa!

Se se opta pelo culto a deuses individuais, devemos respeitá-los como tal - como
indivíduos! Se por outro lado optamos por cultuar os Princípios Divinos
Masculino e Feminino, como creio seja o caso da Wicca, fica tudo mais simples e
COERENTE se não se dão nomes individuais a essas forças.

Para concluir este tema, quero comentar um ponto delicado, mas que merece
consideração por parte da lista. Se todas as Deusas são uma Deusa e todos os
Deuses são um único Deus, o que me impediria de montar um altar Wiccano com de
um lado uma imagem de Maria ("A Rainha do Céu", a "Mãe do Deus", entre outros
nomes que foram primeiro atibuídos à egípcia Ísis...) e do outro a de Jesus (o
filho da Senhora e do Deus, o Pastor, título de Dumuzi, a Criança Prometida)?
Não estou dizendo que isso é ou não possível, só estou puxando a reflexão de
vocês!

Dizer que o cristianismo é incompatível com a Wicca porque a Wicca resgata
valores pagãos opostos ao cristianismo é um erro grave. Pior ainda é usar o já
malhado papo da Inquisição... Veremos o porque no próximo email...

4.

Então vamos lá. Após analisar, na última mensagem, as visões Wiccanas dos
deuses, perguntei: "se todas as Deusas são uma Deusa, e todos os Deuses são um
Deus, como afirmam os pensadores Wiccanos, por que não utilizar uma imagem de
Maria e outra de Jesus no altar, uma vez que ambos são releituras das antigas
deidades da Terra?" Terminei dizendo que alegar que o cristianismo não tem nada
a ver filosoficamente com o Paganismo Wiccano é um erro - basta ver o quanto em
comum os mitos Osíricos, Mitraicos e Dionisíacos têm a ver com a estorinha do
JC, ou o quanto Maria foi influenciada por Ísis e Cibele - só para citar alguns
exemplos. Também é errado afirmar que foi por causa da Inquisição que o
Paganismo perdeu força. Vejamos porque.

Os Neo-pagãos, em sua esmagadora maioria, adoram citar a Inquisição como o
momento em que o paganismo quase foi extinto, sendo salvo graças a umas poucas
abnegadas criaturas que desafiaram as fogueiras em nome de sua fé.

Isso é verdade - mas não toda a verdade.

Podemos começar lembrando que o tribunal da Santa Inquisição, a cargo dos Monges
Dominicanos, foi criado pela Igreja de Roma no séc. XI, para suprimir a heresia
Cátara, um movimento gnóstico cristão que se expandia com avassaladora rapidez
no sul da França. Ou seja, cristão contra cristão... depois, obviamente, a Ordem
Dominicana gostou da brincadeira, e o fervor religioso deu origem ao terror.
Muitos pagãos certamente perderam suas vidas nas mãos dos torturadores e
carrascos, mas temos que lembrar que a maioria das vítimas das fogueiras não
eram pagãos e sim judeus (sempre eles, perseguidos...).

Voltando aos pagãos, temos que lembrar que o paganismo há muito havia sido
banido pela igreja (e pela própria população, sim, senhores). Um pouco de
história:

as crenças dos Celtas, conquistados pelos Romanos no continente europeu e na Grã
Bretanha (mas não na Irlanda), foram absorvidas ou obliteradas pela religião
romana, que já vinha absorvendo várias crenças de outros povos - um exemplo
claro é o culto dos legionários romanos ao deus persa Mithras, ao mesmo tempo em
que cultuavam a gaulesa Epona. Outro exemplo vem do próprio Constantino, o
célebre imperador que converteu o Império Romano ao cristianismo. Ele
originalmente adorava o deus Sol Invictus, também de origem médio-oriental e até
certo ponto similar a Mithras. Ora, onde andavam Minerva, Vênus, e todas as
outras deusas Romanas? Já havia muito tempo que elas não eram mais cultuadas com
a mesma força por Roma. Aliás, diga-se de passagem, uma das deusas mais
populares em Roma pouco antes da "conversão" de Constantino era a egípcia
Ísis... para se ter uma idéia do fervor com que Ísis era cultuada em Roma, o
legislador romano Apuleius escreveu um texto em bom latim no qual Ísis diz: "Eu
sou a Natureza, a Mãe Universal, senhora dos elementos, criança primordial do
tempo, soberana de todas as coisas espirituais, Rainha dos Mortos, Rainha também
dos Imortais, a única manifestação de todos os deuses e deusas que existem."
Isso quase dois milênios antes da Wicca!

Voltando: apesar do culto a Ísis, Roma já havia perdido há muito o seu vínculo
com o "Pagus", com as deidades da Natureza. Afinal, é bom que se deixe isto bem
claro, o patriarcado assumiu papel determinante nas religiões antigas já na
transição da Idade do Bronze para a Idade do Ferro - muito tempo antes de Roma
constituir seu Império...

A renomada historiadora Marija Gimbutas afirma que o paganismo matriarcal começa
a perder energia com a chegada de duas ondas migratórias simultâneas à região da
Mesopotâmia e adjacências - a dos indo-europeus e a dos semitas. Ambos os
invasores cultuavam deuses do Céu, do Trovão, da Guerra. (Não surpreende,
portanto, que os hebreus, herdeiros dos semitas, tivessem tão pouco respeito
pela natureza - como mostra o Torá, o Velho Testamento - Ide, e SUJEITAI as
criaturas da terra... [Gênesis]). O que surpreende é que os indo-europeus, tão
violentos e cultuadores de deuses Celestes semelhantes, tenham posteriormente
originado os Celtas. Isso prova que, quando os celtas surgiram da fusão das
culturas locais da Europa
com a cultura indo-européia, eles mantiveram muitos traços dos habitantes
autóctones. Ainda bem!)

Voltando: essa mudança do matriarcado, do culto à Natureza, para as religiões
patriarcais, qua adoram um Deus distante, aconteceu em tempos diferentes mas em
quase todas as civilizações. Primeiro os Sumérios, Babilônios, Assírios,
Cretenses - depois Gregos, Romanos e os demais, todos esses povos alteraram suas
mitologias e seus cultos. Deixaram de adorar uma Deusa Mãe e seu filho/amante e
passaram a cultuar um Deus soberano, normalmente guerreiro - reflexo da
sociedade de então, que passava a ser dominada por uma casta de reis guerreiros.

Falei tudo isso para chegar a um ponto: por mais que soe estranho afirmar isto,
a Inquisição tem bem pouco a ver com o fim do Paganismo, pelo simples fato que o
paganismo já estava praticamente morto quando da Inquisição. Isto porque séculos
antes, quando os Romanos adotaram o cristianismo como religião oficial do
Império, eles já haviam massacrado os antigos cultos à Terra - não só dos
celtas, mas também os deles próprios. Os templos pagãos de Roma foram fechados,
alguns inclusive destruídos. O Templo de Ísis em Roma não fugiu à regra. Todos
agora voltavam sua atenção ao culto a um Deus Celeste e a seu filho.

Mas o controle romano não era assim tão perfeito, e nos pontos mais isolados do
Império os cultos Pagãos enfraqueceram mas jamais desapareceram. Com a queda do
Império Romano, o controle sobre a população desapareceu, e quem passou a
exercer influência foi a Igreja cristã... de Roma! Seis por meia-dúzia... mas os
primeiros anos do cristianismo são muito interessantes, pois existiam muitas
correntes diferentes de cristianismo, com muitos pontos em comum, mas muitas
diferenças também. Chegou-se a um ponto em que ninguém concordava com ninguém, e
todos defendiam o seu cristianismo como o real, o verdadeiro. Algo muito
parecido com o que o Paganismo vem vivendo hoje. Por exemplo: uns afirmavam que
Cristo era filho de Deus, outros que ele era o próprio Deus, outros mais que ele
era apenas um profeta... para se ter uma idéia, só se chegou a um consenso sobre
a condição do JC no Concílio de Nicéia, quando POR VOTAÇÃO (!!!), decidiu-se que
Cristo era "o filho de Deus"... tomara que o paganismo pare de discutir bobagens
do gênero e perceba o risco que corre. Afinal, no caso do cristianismo, a facção
que saiu fortalecida foi justamente a mais tirânica - a Igreja de Roma... foi
ela que patrocinou, séculos depois, os violentos ataques às heresias, as
cruzadas, a Inquisição. Tudo para impor a SUA versão, a SUA doutrina... QUE ISSO
NÃO SE REPITA ENTRE NÓS!

Mesmo assim, algumas formas de paganismo sobreviveram ao cristianismo,
principalmente na Irlanda, que nunca foi romanizada e só foi cristianizada no
séc. IV - e mesmo assim, desenvolveu um cristianismo todo diferente, mesclando
muitas das tradições pagãs locais.

(Tanto é que, se hoje podemos celebrar Samhain (palavra irlandesa - Samh (verão)
+ Fuinn (fim), ou seja, fim do Verão), se hoje conhecemos os mitos de Brighid,
Dagda e Lugh, devemos agradecer aos primeiros monges cristãos da Irlanda, que
transcreveram os antigos cultos e lendas irlandesas!)

O problema é que na maioria dos casos, principalmente no continente europeu, o
paganismo se resumia a práticas rituais com pouco ou nenhum conteúdo filosófico.
Mantinham-se as tradições, mas perderam-se os Mistérios. E rituais sem filosofia
não passam de "simpatias," de FOLCLORE.

Por isso, visando a dissipar dúvidas como estas, que assolam a maioria dos
pagãos por aqui, é que me dispus a escrever "A RELIGIÃO DA GRANDE DEUSA". Por
isso também é que queimei minha pestana em horas preciosas de um feriado para
escrever estes textos. É para isso que creio que existam listas como esta.
Assim, podemos discutir aspectos mais profundos, REALMENTE importantes do
neo-paganismo no Brasil, e buscar conhecer mais um pouco da filosofia que
abraçamos. Sem esse conhecimento, qualquer prática ritual não passa de
superstição.

E com esse conhecimento, bobagens como "A Wicca surgiu no Neolítico e é a
Religião dos Antigos Celtas", ou "a Inquisição é responsável pelo fim do
Paganismo" deixam de ser repetidas a esmo por pessoas que não pesquisam a fundo
a sua própria filosofia.

Blog oficial do autor:http://blog.claudiocrow.com.br/2010/02/24/o-druidismo-e-as-relacoes-com-o-sagrado-multiplos-caminhos-um-so-objetivo-pte-1/